quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Vejam só, não me valeu!


"Posso não saber nada do coração das gentes, mas tenho a impressão, de que, de tudo, o pior é quando entra a segunda parte da letra de "atrás da porta", ali no quando"dei pra maldizer o nosso lar pra sujar teu nome, te humilhar". Chico Buarque é ótimo pra essas coisas. Billie Holiday é ótimo pra essas coisas. E Drummonde quando ensina que "o amor, caro colega, esse não consola nunca de núncaras." Aí você saca que toda música, toda letra, todo poema, todo filme, toda peça, todo papo, todo romance, tudo e todos o tempo todo,, antes, agora e depois, falam disso. Que o que você sente é único & indivisível e é exatamente igual à dor coletiva, da Rocinha a Biarritz. O coro de anjos de Antunes Filho levanta no ar, em triunfo, os corpos mortos de Romeu e Julieta enquanto os Beatles pedem um Litlle Help from my friends, e a platéia ainda aplaude e pede bis ( O Gonzaguinha também é ótimo pra essas coisas). Meus amigos, abandonados para que eu pudesse mergulhar, voltaram a mil. Tem seus prazeres o fim do amor. Se é patologia, invenção cristã-judaico-ocidental-capitalista, ou maya, ego, se é babaquice, piração, se mudou- através-dos-tempos, puro sexo, carência, medo da morte: não interessa. Tenho certeza que já estive lá, naquele terreno. Ele existe. (...) O que quero dizer é justamente o que estou dizendo Não estou com pena de mim. Ta tudo bem. Tenho tomado banho, cortado as unhas, escovado os dentes, bebido leite. Meu coração continua batendo - taquicárdico, como sempre. Dá licença, Bob Dylan: it´s all right man, I´m just bleeding. Ta limpo. Sem ironias. Sem engano. Amanhã, depois, acontece de novo, não fecho nada, continuamos vivos e atrás da felicidade, a próxima vez vai ser ainda quem sabe mais celestial que desta, mais infernal também, pode ser, deixa pintar. Se tiver aprendido lições ( amor é pedagógico?), até aproveito e não faço tanta besteira. Mas acho que amor não é cursinho pré-vestibular. Ninguém encontra seu nome no listão dos aprovados. A gente só fica assim. Parado olhando a medida do Bonfim no pulso esquerdo, lado do coração e pensando, pois é, vejam só, não me valeu."
( Caio F. Abreu)

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Os três Mal- Amados


"O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha geneologia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida dos meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho dos meus chápeus.O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-x. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.O amor comeu nas estantes todos meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas e canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de próposito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino arquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras, roeu as conversas junto a bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, uma marca de automóvel.
O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento do meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte."
( João Cabral de Melo Neto)
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Lindo poema. Ah se for amor, como atormenta.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Sobre quem sou.

" Com todo perdão da palavra, eu sou um mistério para mim. E nem entendo aquilo que entendo : pois estou infinitamente maior que eu mesma, e não me alcanço." ( Clarice Lispector)


Sobre a vida.

" (...) A vida não é um questionário de Proust. Você não precisa ter que responder ao mundo quais são as suas qualidades, sua cor preferida, seu prato preferido, que bicho seria. Que mania de auto se conhecer. Chega de se autoconhecer. Você é o que é. Um perfeito bem intencionado e que muda de opinião sem a menor culpa. Ser feliz por nada talvez seja isso." ( Martha Medeiros)

Sobre a fé.

" Fé é uma forma de dizer : sim, aceito previamente a maneira como o universo funciona e acredito naquilo que hoje sou incapaz de entender.

( Livro - comer, rezar, amar)


Sobre o abraço.

" O melhor do abraço é a sutileza dele. A mística dele. A poesia.O melhor do abraço é o charme de fazer com que a eternidade caiba em segundos. A mágica de possibilitar que duas pessoas visitem o céu no mesmo instante." ( Ana Jácomo)

Sobre o Bem- estar.

" De vez em quando é necessário a gente se perguntar se dentro de nós é um bom lugar para se viver. Tenho me perguntado isso... e a resposta é sim. Sou um bom lugar." ( Caio F. Abreu)

Sobre aventura.


" Abençoado seja ...
Os improvisos bons que desmancham o penteado,
arrumadinho dos roteiros da gente."

( Ana Jácomo)

Sobre o beijo.


" A vida fica muito mais fácil se a gente sabe onde estão,
os beijos de que precisamos."
(Mário Quintana)

Sobre a coragem.

" O medo sempre me guiou para o que eu quero.
E porque eu quero, temo.
Muitas vezes foi o medo que me tomou pela mão e me levou.
O medo me leva ao perigo. E tudo que eu amo é arriscado."
( Clarice Lispector)

Sobre o desejo.


" Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma,
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação,
não noutra alma.
As almas são incomunicáveis.
Deixa teu corpo entender -se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.
( Manuel Bandeira)

Sobre a saudade.

" A saudade é nossa alma dizendo para onde ela quer voltar."
(Rubem Alves)

Sobre o amor.

" O amor acontece.
E "Se fazemos diferença, que seja com amor.
É ele, sempre ele, que faz a diferença mais linda."

(Ana Jácomo)


sexta-feira, 17 de setembro de 2010

"Será que, à medida que você vai vivendo
andando, viajando, vai ficando cada vez mais estrangeiro?
Deve haver um porto!"

( Caio F. Abreu)

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Procura-se um Príncipe!


Procura-se um príncipe, porque isso de lobo mau é a maior furada. Procura-se um príncipe mais que encantado, um príncipe materializado, que me desgaste de tanto amar. Procura-se um príncipe moreno, ou quem sabe loiro só pra me animar. Um príncipe com muitas posses, com um castelo gigantesco pra gente se perder e vivenciar a delícia de se encontrar.Procura-se um príncipe pra me resgatar da malvada bruxa da realidade, me beijar e salvar meu coração do amargo veneno da maçã vermelha- Desilusão. Um príncipe alto, forte e bravo, pra que ele consiga me carregar nos seus braços, me roubar da rotina, lá na torre mais alta, conhecida como solidão. Que consiga derrubar a porta das incertezas e matar o Dragão chamado temor. Em um beijo de amor verdadeiro me despertar do sono profundo, sem sonhos e sem felicidade. E então no momento em que seus lábios se tornarem os meus, em um toque de mágica nós nos amarmos. Procura-se um príncipe que tenha riso doce, que saiba cantar palavras de amor, que seja romântico a moda antiga, metade Romeu, metade Tristão. Procura-se um príncipe perseverante, um príncipe que sempre venha até mim, toda vez que eu perder meus sapatos de cristal e voltar a ser gata borralheira. Procura-se um nobre príncipe pra me fazer princesa, que me leve com ele pra uma nova vida, em seu cavalo branco, com o vento beijando minha face ruborizada pela aventura e emoção, rumo ao seu reino, meu reino, nossa terra- Felicidade. Procura-se um príncipe pra ter final feliz infinito.
( Thaise Moraes)